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A colonização e povoamento do município de Nova Russas, não foi muito diferente do episódio geral que marcou o processo de ocupação e colonização das terras brasileiras pelos conquistadores portugueses.

No século XVII, à medida que a produção açucareira avançava pelas terras do litoral do nordeste, obrigava a pecuária a invadir as terras do interior do sertão nordestino. Os grupos indígenas que ocupavam as margens dos rios, depois de terem sido expulsos da faixa litorânea, novamente estavam ameaçados pela ocupação da pecuária.

Conforme GIRÃO (1994): “A criação de gado, principalmente do gado vacum, já era conhecida da Capitânia do Siará Grande, antes mesmo do povoamento interiorano”. Portanto, o colonizador cearense não encontrou muitas dificuldades para se adaptar as novas condições, para GIRÃO (1994), os verdadeiros responsáveis pelo processo de povoamento das terras cearenses sãos os habitantes pobres das capitanias da Bahia, Piauí e Pernambuco:

“Deram-se as mãos aí, esses baianos- piauienses- pernambucano-cearenses que de um lado galgavam as nascentes do Jaguaribe, no sul, e, do outro, subiram as do Acaraú, ao norte.” (op.cit.)

É importante ressaltar que o gado adaptava-se naturalmente ao seu novo habitat- a caatinga- imensa área liberada para o desenvolvimento da criação de gado, que exigia apenas aumento do rebanho e aquisição de mão-de-obra que acabou pôr facilitar o pequeno criador.

A criação do gado solto facilitou também o trabalho dos condutores de gado e, apesar da existência de índios selvagens, nada impediu o sucesso do desenvolvimento da pecuária no ceará.

Analisando o pensamento de GIRÃO (1994), é fácil compreendermos como o município de Nova Russas foi povoado em seus primórdios.

“Os rios Jaguaribe e Acaraú foram os dois primeiros pontos essenciais da colonização: e, ao mesmo tempo, serviram de estradas onde se desenvolveu a marcha de ocupação da Capitania; e depois escoadouro das manadas de corte para os mercados consumidores.”

Nesse contexto sócio-econômico, vemos as relações de produção desenvolvendo-se em pleno sertão dos Inhamuns, tendo como base social a pecuária extensiva. As terras eram adquiridas através da compra ou aquisição de sesmarias. ( terras incultas que os reis de Portugal davam a sesmeiros para serem cultivadas).

Na análise de ocupação das terras que deram origem ao município de Nova Russas, constatamos que a região do Vale do Acaraú, foi uma das primeiras rotas da criação de gado no ceará e consequentemente rota de aquisição de fazendas que deram origens a vários municípios do interior cearense, dentre eles Nova Russas.

Assim, vemos que, a antiga FAZENDA CURTUME, foi uma antiga sesmaria pertencente ao colonizador português Capitão-Mor Bernadino Gomes Franco (o velho), que pôr sua vez, vendeu-a para o conterrâneo, “homem de posses”, Vitorino de Lima Barbado. (FARIAS 1995).

Neste Processo, o povoamento e ocupação das terras pertencentes aos domínios da Fazenda Curtume, são o resultado dessa iniciativa, ou seja, ocupar as terras do sertão dos Inhamuns a partir da criação extensiva de gado, e, consequentemente de outras atividades provenientes da pecuária como a curtição de couro. É fácil comprovarmos isso, a partir do histórico do termo CURTUME:

“Provém da pequena atividade rudimentar então em desenvolvimento da fazenda: O curtimento de couro e peles, de que ainda hoje há vestígios na parte leste da cidade, no lugar ventura, onde se encontra intacto, um tanque de pedra e cal, utilizado neste senhor”. ( FARIAS, 1995).

Portanto, da mesma forma, que o sertão dos Inhamuns foi desbravado por descendentes portugueses, e, tiveram que entrar em conflito direto com as tribos indígenas que habitavam essas terras- agora ocupadas com a pecuária para viabilizar essa atividade econômica, assim também num determinado momento de sua história, o primeiro povoador do Curtume vira-se em confronto com os nativos, para “limpar as terras”. É importante, destacar a análise de GIRÃO (1994), com relação ao aumento de colonizadores nessa região:

“Isso deveu-se ao apoio oficial dado aos colonos no combate aos donos naturais da terra, fornecendo armas para sua defesa pessoal, assim como organizando expedições contra os silvícolas”.

A rebeldia própria dos nativos que não tencionavam perder suas terras, nem dá-las de mão beijada aos exploradores portugueses, nem, tampouco, se deixar escravizarem, acabou gerando a guerra entre brancos colonizadores e tribos indígenas cearenses, e, consequentemente o ódio entre as raças. Sabemos que o vocabulário novarussenses está impregnado de nomes com origem indígena, tais como: cunhã (utilizado de forma pejorativa), significa na língua tupi- mulher jovem; curió, do tupi- ave passeriforme; cururu do tupi- designação comum “alguns sapos de grande porte”; temos também nomes próprios: Tibiriçá, Ubirajara, Potira, Tabajara e o nome dos municípios; hoje limítrofes: Ararendá- corruptela IRARANA- de IRA- mel e RANA- falso, o que vem significar PARECIDO COM MEL. (FARIAS, 1995). IPUEIRAS, de origem tupi, significando, IP- água + UEIRA = RASA, que vem significar Água Rasa. ACARAÚ de origem tupi, formado de ACARÁ = Garça + Ú + rio, isto é, Rio das Garças e, IPU em língua tupi IG= água, palavra onomatopéia que quer dizer queda. Portanto, IPU- quer dizer Queda D’água (FARIAS 1995).

Nessa perspectiva, destacamos que a colonização do município de Nova Russas, seguiu a lógica da história geral do Ceará. O povoamento deu-se com a criação extensiva do gado- daí o nome CURTUME, onde a principal atividade econômica era o comércio do couro e do gado; seus primeiros povoadores (antes mesmo dos povoadores oficiais) entraram em conflito com os silvícolas que habitavam o Vale do Acaraú e adjacências.

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